sexta-feira, 8 de novembro de 2013

A origem dos Drummond

O Castelo Drummond, visto de seu
jardim, perto de Muthill, concílio de
Perth and Kinross, Escócia.
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Os Drummond são um clã da Escócia, originários da região central do país e membros da nobreza local desde a alta Idade Média. Os castelos escoceses de Drummond (em Muthill, perto de Crieff) e de Stobhall (perto de Perth) são atualmente propriedades de famílias desse clã. Alguns membros vieram para o Brasil, especialmente os de um ramo que primeiro emigrou para a Ilha da Madeira no século XV (ver "Os Drummonds da Madeira e a correspondência com a Escócia", neste blog).

1. A origem do sobrenome: Druiminn/Drymen
2. A origem do sobrenome: A tradição
3. Os ancestrais húngaros e Átila, o huno
4. Apêndice: As invasões dinamarquesa e normanda
5. Cronologia 
6. Notas e referências


A origem do sobrenome: Druiminn/Drymen

Parece existir uma conexão entre o sobrenome e uma cidade escocesa, Druiminn, hoje chamada Drymen. Fica perto do lago Lomond, ou Loch Lomond, título de uma belíssima música tradicional escocesa (neste link, a versão de John McDermott, com imagens de paisagens do lago). A versão "Druiminn" é do idioma gaélico, uma língua celta que era majoritária na Escócia antes de esta ser unida à Inglaterra, nos primeiros anos do século XVII (aliás, "loch" é "lago" em gaélico). Ainda é falado por uma minoria de cerca de 1% da população de lá. Segundo estudiosos, a palavra seria derivada do gaélico "dromainn", que significa "cadeia montanhosa" ou "terras altas" [1].

Desse local seria originário o primeiro Drummond com registro histórico, Maol Chaluim Beg (em gaélico, "pequeno Malcolm" [2]), o thane de Lennox, que viveu no século XIII. "Thane" é um título nobiliárquico escocês; quem o detinha possuía certos poderes senhoriais sobre um território - no caso, o território era Lennox, situado logo ao norte da atual Glasgow (vide mapa abaixo) [3]. O thane, na hierarquia dos graus honoríficos, estava imediatamente abaixo do "abthane", por sua vez o mais alto oficial abaixo do rei [4].


Clique na imagem para ampliá-la. Mapa da Escócia ao redor de 1230, com o território de Lennox indicado.
Autores: Finn Bjørklid e Calgacus (nickname do Wikipedia).
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Malcolm passou a assinar "Malcolm de Druiminn". Com o tempo, o nome acabou se alternado para Drummann [1] (veja aqui a pronúncia em gaélico) e, com o domínio inglês, para Drummond. No Brasil e em Portugal, passou a ser escrito como "Doromundo", "Dormundo" ou outras variantes, mas a partir do século XIX passou-se a escrever também "Drummond" (Brasil) e "Drumond" (Portugal).

Nas gerações seguintes, grande parte das terras dos Drummonds em Lennox foi transferida para outras famílias, como os Monreith [5]. Porém, adquiriram outras, em especial em Perth, do outro lado da Escócia. As terras de Perth foram obtidas por mercê do rei da Escócia, Raibeart I (Roberto I), porque o chefe do clã, Malcolm Drummond, lutou ao seu lado nas guerras de independência da Escócia contra a Inglaterra. A Inglaterra invadira a Escócia em 1296 e esta última só se viu livre do jugo em 1328, após uma série de guerras. Uma das batalhas mais decisivas foi a de Bhonnaich (em gaélico) ou Bannockburn (em inglês), em 1316, da qual Malcolm Drummond teria participado [1]. Por isso, os castelos de Stobhall e de Drummond ficam na região de Perth e o chefe atual do clã é o earl de Perth.


A origem do sobrenome: a tradição

Porém, existem histórias tradicionais sobre Drummonds anteriores a Malcolm Beg. Desde o século XI, a tradição do clã vem passando de geração em geração um relato sobre a origem do sobrenome bem diferente do dito acima. Segundo ela, quando os normandos invadiram e conquistaram a Inglaterra, em 1066, o herdeiro do trono inglês, Edgar Aetheling, que deveria se tornar monarca pois seu pai acabara de morrer, zarpou do país fugindo em direção à Hungria com companheiros ingleses e húngaros. Porém, uma tempestade os fez aportar na costa da Escócia. O rei escocês Malcolm III acolheu todo o grupo; para vários deles, concedeu senhorias sobre terras do seu país e casou-se com a irmã de Edgar, Margareth.

Para um desses húngaros, chamado Mauritz, coube as terras de Lennox. Foi-lhe dado um brasão de armas [6] e o rei deu-lhe o nome de "Drummond". A palavra, segundo a tradição do clã, significaria "grandes alturas de águas" e se referia ao fato de Mauritz ter vindo do mar e talvez também de ter um cargo importante na tripulação de Edgar. Serviria para seus descendentes se lembrarem de sua origem. Nas gerações seguintes, o título acabou virando sobrenome de família. Segundo Strathallan [4], Mauritz teria morrido em 1093, lutando ao lado dos escoceses na Batalha de Alnwick, contra a Inglaterra (nessa batalha também morreu o rei Malcolm III). O relato mais antigo que vi até hoje sobre isso data de 1519, mas o do visconde de Strathallan, de 1681, é o mais completo.

O que um húngaro estava fazendo envolvido com a política inglesa, veja no Apêndice no final deste texto.


Os ancestrais húngaros e Átila, o huno

Existe também uma versão sobre os ancestrais do próprio Mauritz, o húngaro. Segundo ela, o pai de Mauritz seria György (Jorge), filho do rei húngaro André I, da dinastia Árpád. Esse rei se converteu ao catolicismo no meio de seu reinado e os filhos que teve antes do seu casamento católico foram considerados ilegítimos e ficaram de fora da sua linha de sucessão. Quando Eduardo, o Exilado, e seu filho Edgar Aethling, que estavam hospedados na Hungria, retornaram à Escócia, György, então, foi embora do país com eles. Não pude ainda rastrear a origem de tal informação, porém, ao que parece foi difundida pela obra "Europäische Stammtafeln", uma obra de genealogia europeia bastante consultada, que reproduziu a informação de uma publicação polonesa de 1959 [7].

A dinastia Árpád governou a Hungria do ano 1000 até o ano 1301. Uma das versões de sua origem diz que ela é descendente de ninguém menos que Átila, o Huno. Uma das fontes é o "Gesta Hungarorum", um manuscrito anônimo da virada do século XII para o XIII, no qual essa ascendência é mencionada várias vezes [8]. Existem, porém, muitas dúvidas sobre a veracidade das informações desse documento.

Os Drummond do Brasil e de Portugal descendem quase todos de um único membro do clã, John Drummond, que emigrou para a ilha da Madeira, onde foi chamado de João Escócio. Falo disso em outro post. Um resumo da linha desde Átila até João Escócio aparece em um trabalho de Francisco Antônio Doria (em PDF) [9].


APÊNDICE: As invasões dinamarquesa e normanda - e como os húngaros entraram na história

Detalhe da Tapeçaria de Bayeux,
representando os combates entre
franceses e ingleses em uma narração
pictórica da invasão da Inglaterra pelos
normandos em 1066. Esta magnífica peça
de tapeçaria possui 50 cm de altura e
70 m de comprimento e foi feita na
Inglaterra, provavelmente na década de
1070. Hoje, encontra-se no Museu da
Tapeçaria de Bayeux
("Musée de laTapisserie de Bayeux"),
na cidade do mesmo nome, na França.
Ao longo de todo o seu comprimento,
há inscrições em latim indicando o que
representam os desenhos. No trecho da
figura acima, está escrito: "Aqui, os
franceses [ou seja, os normandos]
estão lutando e mataram aqueles que
estavam com o rei [inglês] Harold"
("Hic franci pugnant et ceciderunt qui
erant cum Haroldo"). Com a derrota dos
ingleses, o sucessor de Harold, Edgar
Aethling, fugiu para a Hungria, mas teve
que aportar na Escócia por causa de uma
tempestade. Um dos companheiros
húngaros que estavam com ele foi a
origem do clã Drummond, segundo a
tradição.
Parágrafo do texto principal que se refere a este Apêndice

Aqui é relatado por que um grupo de húngaros acabou se envolvendo com a política inglesa do século XI.

1. A invasão dinamarquesa e o exílio de Edward
2. A invasão normanda
3. A Inglaterra e a França depois da invasão
4. Notas e referências


A invasão dinamarquesa e o exílio de Edward

Para entender isso, temos que retroceder até o ano de 1014. Os normandos não foram o primeiro povo que conseguiu conquistar a Inglaterra. Em 1014, a Dinamarca invadiu e anexou-a aos seus domínios. Hoje a Dinamarca é um país pequenino, mas houve um tempo em que ela era uma potência militar e naval que construiu um império na Europa Norte-Ocidental, em terras das atuais Suécia, Noruega, Inglaterra e norte da Alemanha. O auge foi no século XI, sob o reinado de Canuto.

Na última fase da batalha de conquista da Inglaterra, morreu o rei inglês Edmund Braço-de-Ferro (Edmundo II). Seu herdeiro, Edward, então com apenas alguns meses de idade, foi sequestrado pelos invasores e enviado para a Suécia. De lá, foi reenviado para Kiev, hoje na Ucrânia e na época capital de um país antecessor da atual Rússia, chamado Rus de Kiev, cujo governante era parente de Canuto. E, de Kiev, foi remetido para a Hungria, também governada por um parente. Eis então como a Hungria entra na história.

Edward, o Exilado, como ficou conhecido, cresceu na Hungria e lá se casou e teve filhos. Enquanto isso, do outro lado da Europa, o trono inglês era restituído, em 1042. O novo monarca, Edward, o Confessor, soube que o Exilado seu homônimo estava vivo e na Hungria. Isso era bom para o rei, porque havia um herdeiro para seu trono. Então, em 1056, ordenou que o Exilado fosse trazido de volta.

Retornou então o Exilado ao seu país, já com mais de 40 anos, levando junto seu filho Edgar e alguns companheiros húngaros. Mas, após tanto tempo no exílio, o destino não quis que ele se tornasse rei: faleceu pouco depois. A herança do trono ficaria para seu filho, Edgar Aetheling, que ainda era uma criança de apenas 6 anos.


A invasão normanda

Os problemas dos ingleses com os nórdicos voltariam. Chegamos aqui à nova invasão da Inglaterra, a de 1066, pelos normandos. Estes eram descendentes de nórdicos que haviam saído da Escandinávia e se estabelecido na costa noroeste da França (a Normandia) no século anterior, e fundado ali um estado. Logo após as batalhas principais, o rei inglês Edward, o Confessor, morreu, e seu filho Edgar fugiu para a Hungria, junto com várias pessoas, inclusive companheiros húngaros que o acompanhavam desde a volta de sua família daquele país.

Acontece que uma tempestade pegou os navios de Edgar, que teve que parar no meio do caminho e aportar na costa da Escócia, onde foi recebido pelo rei escocês.

Até aqui, trata-se de dados históricos, que constam nas crônicas inglesas escritas desde o século XI. As primeiras delas foram escritas no tempo em que alguns dos envolvidos nesses eventos ainda estavam vivos. A mais conhecida é a "Crônica Anglo-Saxã"("Anglo-Saxon Chronicle"), de autores anônimos dos séculos IX-XII [10]. Especificamente sobre a passagem de Edward, o Exilado, pela Europa e sua volta à Inglaterra com seu filho Edgar Aethling, há uma coleção de referências no "Scottish annals from English chroniclers", na nota 4 da pág. 94 [11]. Narrativas contemporâneas aparecem em diversos textos básicos sobre história da Inglaterra. Os artigos do Wikipedia em inglês estão bons e possuem boas referências. Sugiro as biografias de Edgar Aethling e de Edward, o Exilado e o artigo sobre a conquista da Inglaterra pela Dinamarca.

Mas nenhuma dessas crônicas fala do destino de um dos companheiros húngaros de Edgar, chamado Mauritz. Quem fala disso é a história transmitida de geração em geração pelo clã Drummond, cujo conteúdo está no texto principal.


A Inglaterra e a França depois da invasão

Edgar ainda tentou guerrear contra os normandos, mas não teve sucesso. Os invasores não saíram nunca mais. A sede do governo foi transferida da Normandia para a Inglaterra e a primeira ficou com o status de domínio inglês em território francês. Nos séculos seguintes, o território normando na França expandiu-se França adentro. Por isso, até o século XV, um grande pedaço do território francês era domínio inglês. Os franceses o reconquistaram durante a Guerra dos Cem Anos (1337-1453). A ilha de Jersey, hoje um famoso paraíso fiscal britânico na costa da França, é uma "resquício" dos antigos territórios ingleses naquele país.

Enquanto isso, na Inglaterra, a língua do país se transformava sob a influência de seus novos senhores até dar no inglês moderno. Originária de línguas anglo-saxãs antigas, ela já havia sofrido influência dos idiomas locais celtas que existiam antes dos anglo-saxões chegarem, mas principalmente do latim (do antigo Império Romano, que dominava a região até o século V) e do dinamarquês, por causa da invasão de 1014 (que não foi a primeira; houve uma anterior no século X). Após o aparecimento dos normandos, o idioma se transformou mais fortemente até o inglês atual.


Cronologia dos fatos citados no texto

Esta cronologia envolve os fatos citados neste texto e em outros dois sobre os Drummond, sobre os Drummond da Madeira e sobre Antônio João de Freitas Carvalho Drummond, que emigrou para Minas Gerais.

Convenção das cores:
  • Azul: Escócia, Inglaterra e França
  • Marrom: Drummond
  • Preto: Europa em geral
  • Rosa: Portugal, Madeira, Brasil
 
886-954 - Primeiro domínio dinamarquês sobre a Inglaterra (Danelaw).

1013-1042 - Segundo dominio dinamarquês sobre a Inglaterra. Trecho sobre isso

1014 - Edward, filho do rei inglês morto, é enviado pelos invasores dinamarqueses para a Suécia; depois, será remetido para a Hungria, onde se casará e terá filhos. Trecho sobre isso

1056 - O rei inglês, Edward, o Confessor, manda trazer de volta da Hungria o herdeiro do trono, Edward, o Exilado. Trecho sobre isso

1066 - Batalha de Hastings: conquista da Inglaterra pelos normandos. Trecho sobre isso


1066 - Origem dos Drummond: Edgar Aethling e seus companheiros húngaros tentam fugir da invasão normanda para a Hungria, mas naufragam na costa da Escócia e são ali acolhidos pelo rei escocês Malcolm III. Mauritz receberá do rei as terras de Lennox e o nome de "Drummond". Trecho sobre isso

1093 - Morte de Mauritz, na batalha de Alnwick (escoceses contra ingleses). Trecho sobre isso

1147 - Data-marco da independência de Portugal, separando-se do reino de Castela.

1296-1328 -  Domínio da Inglaterra sobre a Escócia e sequência de guerras de independência escocesa.

1316 - Batalha de Bannockburn, nas guerras de independência escocesa. Origem das terras dos Drummond em Perth: Malcolm Drummond participa da luta ao lado do rei da Escócia e, como reconhecimento, recebe dele as terras em Perth. Trecho sobre isso

1337-1453 - Guerra dos Cem Anos: a França recupera a maioria dos domínios ingleses em seu território.

1345 - O castelo de Stobhall passa a ser propriedade do clã Drummond, com o casamento de John Drummond cmo Mary Montfichet.

1415 - Início das Grandes Navegações.

1418 - Portugal toma posse da ilha da Madeira.

1419 - John Drummond sai da Escócia em direção à França, depois Espanha e depois Madeira: origem dos Drummond da Madeira. Trecho sobre isso

1492 - Descobrimento da América.

1500 - Descobrimento do Brasil.

1517 - Início da Revolução Protestante na Alemanha por Martinho Lutero; ela se espalharia por toda a Europa Ocidental.

1519 - Os Drummond da Madeira são redescobertos pelo clã da Escócia. Trecho sobre isso

1525 - O rei da Escócia emite um atestado de nobreza para os Drummond da Madeira. Trecho sobre isso

1527 - Falecimento de Beatriz Escócia, filha de João Escócio. Antes disso, ela fundou o morgado de São Gil, em Santa Cruz, Madeira. Trecho sobre isso

1538 - Carta de brasão, emitida pelo rei de Portugal para os Drummond da Madeira.  Trecho sobre isso

1580-1640 - União Ibérica entre Portugal e Espanha.

1585-1604 - Guerra entre Inglaterra e Espanha.

1588 - Destruição da Invencível Armada espanhola pela esquadra inglesa.

1603-1688 - União dinástica entre Escócia e Inglaterra.

1604 - Recontato dos Drummond da madeira com o clã da Escócia. Trecho sobre isso

1634 - Última correspondência entre os Drummond da Madeira e os da Escócia registrada no século XVII.

1681 - William Drummond (futuro visconde de Strathallan) escreve sua genealogia dos Drummond.

1695 - Data aproximada da descoberta de ouro em Minas Gerais; início da migração intensa para Minas de madeirenses e açorianos e portugueses continentais.

1706-1709 - Guerra dos Emboabas entre paulistas (descobridores das minas) e portugueses, pela posse das minas de ouro. Os paulistas saem derrotados, mas ganham algumas concessões do governo português, que começa a regulamentar melhor a exploração das minas (o que culminará com a criação da própria Capitania de Minas Gerais em 1720).

1720 - Criação da Capitania de Minas Gerais.

1723 - Nascimento de Antônio João de Freitas Carvalho Drummond, em Funchal, na Madeira. Trecho sobre isso

1750 - Data muito aproximada do início da decadência da produção de ouro em Minas Gerais.

1750 - Tratado de Madri entre Portugal e Espanha: o Brasil passa a ter um tamanho próximo ao atual.

1763 - A capital do Brasil passa de Salvador para o Rio de Janeiro.

1770 - Casamento de Antônio João de Freitas Carvalho Drummond com Maria Joaquina Gomes de Abreu. Trecho sobre isso


Notas e referências

[1] "Drummond History", site Scot Clans

[2] Veja no site Forvo as pronúncias atuais de "Maol" (veja abaixo da opção "gaélico escocês") e "Chaluim".

[3] Algumas pessoas traduzem a palavra "thane" como "earl", um título nobiliárquico inglês da mesma época. Isto parece ser um erro, pois o título escocês normalmente traduzido como "earl" é "mormaer". Os mormaer tinham grandes poderes sobre seus domínios e acima deles só estava o rei. Existiram, de fato, os mormaer de Lennox, mas eles estão relativamente bem documentaos e seus nomes não coincidem com os thanes de Lennox da família Drummond. Assim, os mormaer e os thanes de Lennox parecem ser pessoas diferentes. De fato, Strathallan [4], na pág. 16, menciona alguns thanes que foram promovidos a earls. Outros autores traduzem "thane" para "senescal", um título usado na Inglaterra e na França, ou mesmo para "conde", este de uso mais geral na Europa. De qualquer forma, nenhuma dessas traduções é exata, pois "thane" era um título específico dos escoceses medievais e só poderia ser identificado com esses outros de forma aproximada. O melhor é manter a palavra original em gaélico escocês para evitar confusões (o mesmo se poderia dizer sobre a "tradução" de "mormaer" para "earl").

[4] STRATHALLAN, visconde de (William Drummond). "The genealogy of the most noble and ancient house of Drummond" (PDF). A. Balfour & Co., Edinburgh, 1831; impressão privada, 1889. Primeira edição em livro: 1681. Pág. 16.]

[5] STRATHALLAN, op. cit., pág. 15.

[6] Em uma carta de brasão de 1538 do rei de Portugal D. João III quando concedeu o brasão de armas aos Drummond da ilha da Madeira, o brasão foi assim descrito:

"Um escudo com o campo  de ouro, e três faxas ondadas de vermelho, e por differença uma brica de verde com um D. de ouro; elmo de prata aberto guarnido de ouro, paquife  d’ouro e de vermelho com sua colheira d’ouro"

No livro de Strathallan, de 1681, pág. 17, a descrição possui mais elementos (foi mantida a ortografia da época):

"Or, 3 barrs unds G ; a helmet, wreath, coronet, and manteling fuitable to his degree; and for a creft a bloodhound of the 2d langued, armed, coloured of the 1; with two wyld naked men for lupporters, wreathed about the body and head with ivy, each beareing on liis flioulder a club raguled, and gaulthrops lying fcattered about theire feet; with this motto, 'Gange Warrily'."

A figura abaixo, de um brasão encontrado à venda no site www.ebay.com, é relativamente próxima dessa descrição:


[7] A "Europäische Stammtafeln" ("Árvores Familiares Europeias") é uma série de 29 livros publicados a partir de 1935. Não pude consultar diretamente esses livros, mas há uma informação espalhada pela Internet (escrevo em novembro de 2013) que informa que o "Europäische Stammtafeln" cita como fonte da ligação entre Mauritz e a dinastia Árpád uma obra publicada em 1959 em Varsóvia. Vide, por exemplo, "Arpad family" e "Clan Drummond". A versão foi popularizada no Brasil com o livro de José Tavares Drummond, "A família Drummond no Brasil", Publicações do Colégio Brasileiro de Genealogia, Rio de Janeiro, 1970.

[8] Uma tradução para o inglês do "Gesta Hungarorum" aparece em Rady, M; (2009) "The Gesta Hungarorum of Anonymus, the Anonymous Notary of King Béla: A Translation". Slavonic and East European Review, 87 (4) 681-727. Uma versão em latim, sua língua original, aparece neste link (acesso em 02/11/2013).

[9] DORIA, Francisco Antônio. "Drummond" (PDF). In: "Genealogias.org" (2000). Acesso em 02/11/2013.

[10] "The Anglo-Saxon Chronicle". Originalmente compilado a partir de aproximadamente 890 e subsequentemente mantido e acrescentado por gerações de escribas anônimos até a metade do século XII. Transcrição da tradução de James Ingram (Londres, 1823), com leituras adicionais da tradução de J. A. Giles (Londres, 1847). E-book disponível no site do Projeto Gutenberg.

[11] ANDERSON, Allan Orr. "Scottish annals from English chroniclers, A.D. 500 to 1286". London D. Nutt, 1908. Pág. 94, nota 4.

Os Drummonds da Madeira e as correspondências com a Escócia

A torre da igreja da Matriz de
Santa Cruz, na ilha da
Madeira. Construída no
século XVI, ali se casaram e
foram batizados vários dos
descendentes de João
Escócio.
Link para a imagem original
Os Drummond do Brasil e de Portugal descendem quase todos de um único membro desse clã escocês, John Drummond, também chamado João Escócio ou Escórcio, como passou a ser conhecido na ilha da Madeira. O relato que faço abaixo vem de uma narrativa feita em 1681 por William Drummond, que depois foi nomeado Visconde de Strathallan. O visconde se baseou em documentos no arquivo do clã no Castelo Drummond. Suas notas foram transformadas em livro em 1831, o qual está disponível em PDF na Internet [1]. A parte sobre os Drummond da Madeira encontra-se a partir da pág. 92 (veja aqui sobre as origens remotas desse clã).

1. João Escócio
2. A redescoberta do clã
3. O reencontro de 1604
4. A descendência na Madeira
5. Notas e referências

Nesta página, há uma cronologia com os eventos citados aqui.


João Escócio

John Drummond ou João Escócio era filho de John Drummond de Stobhall e Cargill e de Elizabeth Sinclair, proprietários do castelo de Stobhall. Esse castelo tornara-se propriedade do clã com o casamento de seu avô, outro John Drummond, com Mary Montfichet, em 1345 (veja imagens recentes do castelo neste link). Uma tia de João Escócio, Annabela, tornou-se rainha consorte da Escócia quando seu marido tornou-se o rei Raibeart III (Roberto III), que reinou de 1390 a 1406.

Segundo a narrativa de Strathallan, João saiu da Escócia em 1419, passou pela França e depois foi para a Espanha, onde participou de lutas contra o reino de Granada. Este reino era o último enclave muçulmano na Península Ibérica; sobreviveria até 1492. Mais tarde, continuou a viajar e foi parar na ilha da Madeira, onde se casou com uma madeirense chamada Branca Afonso.

Sabemos dessas suas aventuras porque elas estão relatadas em um documento oficial de 1519, emitido pelo Conselho de Nobreza da Escócia, para servir de atestado legal da sua ascendência. Mais abaixo, falarei mais sobre esse documento. Strathallan ainda acrescenta que João Escócio, na sua estadia na França, teria lutado contra os ingleses na Guerra dos Cem Anos, que então se desenrolava.

O arquipélago da Madeira até hoje é território português no Oceano Atlântico. Na época em que João saiu da Escócia, ela havia acabado de ser "descoberta" pelos portugueses (entre aspas, porque ela aparece em mapas pelo menos desde 1339). A tomada de posse da Madeira pelos portugueses foi um episódio da fase inicial das Grandes Navegações, que mais tarde levariam à exploração da costa da África, do sul da Ásia e do Pacífico e que culminariam na descoberta da América em 1492 e do Brasil em 1500.


A redescoberta do clã

Foi na Madeira que John Drummond passou a ser conhecido como João Escócio. O contato com seu país de origem foi perdido por algum tempo. Mas a família foi redescoberta pelo clã escocês acidentalmente em 1519, quando um navegador, Thomas Drummond, passou na ilha vizinha de Porto Santo e encontrou membros da família que ali residiam. Naquela altura, João Escócio já havia falecido havia "100 anos ou mais" (segundo o documento do Conselho da Nobreza que citei acima). Thomas conversou especialmente com um dos seus netos, Manuel Afonso Ferreira, e seus irmãos, filhos de Belchior Gonçalves Ferreira e de Branca Afonso (esta filha do João Escócio). Porto Santo é a segunda maior ilha do arquipélago, depois da própria Madeira, e é o local colocado no cabeçalho de várias cartas trocadas posteriormente entre os Drummond da Madeira e os da Escócia.

Manuel Afonso pediu a Thomas que requeresse ao clã na Escócia os documentos necessários para comprovar sua ligação com os Drummond, para que fosse também considerado parte da nobiliarquia de seu país, com todas as regalias disso decorrentes. Thomas enviou o pedido para o chefe do clã, David Lord Drummond.

Apesar de chefe, David era ainda muito jovem. Alguns primos mais experientes o auxiliaram, como Archbald, earl de Angus, e George, earl de Hyntly ("earl" é um título nobiliárquico e senhorial; o earl de Angus, por exemplo, tinha poder senhorial sobre o território de Angus). Eles decidiram enviar a requisição de Manuel Afonso ao Conselho da Nobreza da Escócia, que analisou a genealogia do clã e emitiu um atestado formal, reconhecendo que João Escócio era mesmo filho de John Drummond de Stobhall, membro do clã. Esse é o "documento do Conselho da Nobreza" que cite acima, que relatava a trajetória de João Escócio na França e na Espanha.

Thomas Drummond retornou ao arquipélago da Madeira com o atestado do Conselho e mais o brasão de armas do clã, e o entregou aos seus parentes de lá. Estava escrito em latim, que era a língua usada para documentos internacionais na época. Ele também menciona a história do húngaro que aportou na Escócia e que teria sido o primeiro dos Drummonds.

Além disso, Thomas levava uma carta pessoal do próprio David Lord Drummond endereçada a Manuel Afonso e seus irmãos (desta vez escrita em inglês), na qual chamava-os de "queridos e bem-amados primos" e os tratava como parte do clã. Na carta, dava-lhes informações adicionais sobre a família e convidava a enviar um representante do ramo da Madeira para a Escócia, garantindo que os membros do clã o tratariam como se fosse seu próprio filho.

Mas aqueles eram documentos escoceses e a Madeira era território português. Mais tarde, a família na Madeira decidiu ir mais além e conseguir um documento do governo de Portugal. Enviaram um parente, Diego Peres Drummond, até lá, para fazer uma requisição ao rei D. João III. Este aceitou e o documento oficial que emitiu, datado de 19 de março de 1538, descreve o brasão de armas dos Drummond.


O recontato de 1604

Os documentos ficaram arquivados em um cartório em Funchal, capital do arquipélago da Madeira, na própria ilha da Madeira. Porém, apenas em 1604 alguém da família se interessou ou pôde em fazer uso deles. Strathallan justifica esse interregno dizendo que a correspondência entre os Drummonds da Madeira e da Escócia havia sido interrompida devido a conflitos entre a Inglaterra e a Espanha e que, por isso, os madeirenses não puderam fazer uso do status nobiliárquico que lhes fora concedido.

Tratava-se da guerra de 1585-1604. Seu episódio mais conhecido foi a destruição da Invencível Armada espanhola pela esquadra inglesa em 1588 (com o auxílio luxuoso de uma tempestade que fez a maior parte do trabalho). A Espanha logo se recuperou, mas a derrota foi o prenúncio do domínio inglês dos mares a partir do início do século seguinte e que durou até a Segunda Guerra Mundial. O conflito foi um dos vários desdobramentos das guerras religiosas que assolaram a Europa ocidental desde o início da Revolução Protestante em 1517.

Essa guerra afetava a relação Madeira-Escócia porque, naquela altura, ambos os lados da correspondência estavam conhecendo o fenômeno da união dinástica. O rei da Espanha herdou o trono de Portugal em 1580 e os dois países permaneceram unidos por 40 anos. E o rei da Escócia herdou os tronos da Inglaterra e da Irlanda em 1603, união que durou 85 anos. O resultado foi que tanto Portugal quanto a Escócia herdaram os problemas da guerra entre Inglaterra e Espanha (não só: o Brasil herdou os da guerra de independência da Holanda contra a Espanha, o que levou às invasões holandesas no Nordeste brasileiro).

Com o fim da guerra, em 1604 os descendentes de Martim Afonso Ferreira detectaram uma oportunidade da qual resolveram se aproveitar. Para implementar o tratado de paz, que havia sido assinado em 28 de agosto daquele ano, o embaixador da Inglaterra, Charles Howard, esteve pouco depois em Madri, acompanhado do earl de Perth, James Drummond. Na ilha da Madeira, um bisneto de Martim Afonso Ferreira, chamado Martim Mendes de Vasconcelos Drummond, soube que seu importante parente de Perth estava na capital espanhola. E também que o rei da Inglaterra devia grandes favores a ele e sua irmã, Jean Drummond, condessa de Roxburgh.

Martim apelou a eles para intermediarem uma carta de recomendação ao rei da Inglaterra e também que os embaixadores espanhóis na Inglaterra intermediassem outra carta de recomendação para o rei da Espanha. Assim foi feito. O próprio rei da Inglaterra, James I (que também era James VI da Escócia por causa da união dinástica), enviou uma carta ao rei Felipe II da Espanha recomendando que também concedesse aos Drummond da Madeira os mesmos "favores e mercês" que os reis de Portugal haviam concedido.

O pobre mensageiro que levava o resultado positivo das petições até a Madeira, William Crawford, foi assaltado por piratas no meio do caminho e teve que aportar na costa da África (provavelmente no atual Marrocos). Só conseguiu chegar na Madeira dez anos depois (veja aqui a carta que enviou da Madeira à Escócia, em inglês). Mas conseguiu entregar sua encomenda. As correspondências entre os Drummond da Madeira e os earls de Perth continuaram até 1634. No livro de Strathallan [1] há mais três, escritas em latim e em inglês, a partir da pág. 102. Como ainda não pude traduzir as em latim para ver seu conteúdo em detalhe, paro esta narrativa por aqui.


A descendência na Madeira

A descendência dos Drummond da Madeira está descrita nas genealogias madeirenses, como o "Nobiliário Genealógico das Famílias", de Henrique Henriques de Noronha, publicado em 1700 (de 3 volumes) ou os "Apontamentos para a genealogia de diversas famílias da Madeira", de Felisberto Bittencourt de Miranda, publicado em 1888. Todos estão disponíveis em PDF no site do Centro de Estudos de História do Atlântico (P.S. de 06/02/2015: parece que esses livros foram retirados desse site; não consegui mais encontrá-los lá). Há também uma versão em DVD comercializada.

Vários membros da família Drummond da Madeira foram ao Brasil. Na carta enviada pelo rei da Inglaterra, James I, ao rei da Espanha, Felipe II, de 1613, é mencionada a presença de membros do clã no nosso país. O mesmo aconteceu em uma das cartas trocadas pelos Drummond da Madeira e pelo earl de Perth, datada de 1623 [2]. Antes disso, um certo Manuel da Luz Escórcio Drummond apareceu com sua mulher e seus filhos em Santo André, no litoral de São Paulo. Ali, casou-se uma segunda vez, depois de enviuvar, e mudou-se para o Rio de Janeiro. Descendentes seus apareceram em Minas Gerais no início do século XVIII [3]. Outros Drummond do Rio de Janeiro apareceram na Bahia, como Domingos Gonçalves Drummond, natural de Cabo Frio, que foi para Salvador no século XVIII [4].

Mas os Drummond de Minas são em grande maioria descendentes de um único imigrante, Antônio João de Freitas Carvalho Drummond, que nasceu em 1723 em Funchal, na Madeira. No livro de Felisberto Bittencourt de Miranda, no título "Carvalhos de S. Gil", ele aparece como "Antônio Carvalho, que foi para o Brasil". Veja mais sobre Antônio João nesta outra postagem deste blog.


Notas e referências

[1] STRATHALLAN, Visconde de (William Drummond). "The genealogy of the most noble and ancient house of Drummond" (PDF). A. Balfour & Co., Edinburgh, 1831; impressão privada, 1889. Primeira edição em livro: 1681.

[2] Carta dos irmãos Remígo da Assunção Drummond, Antônio de Freitas Corrêa Drummond e Simão de Freitas Corrêa Drummond ao earl de Perth, John, Lord Drummond. In: Strathallan (1831; 1889) [1], pág. 105.

[3] LEME, Pedro Taques de Almeida, "Nobiliarquia Paulistana Histórica e Genealógica", vol. II, título "Toledo Pizas", cap. II, § 2.o, pág. 231. As informações de Pedro Taques sobre Manuel da Luz Escórcio Drummond e seus descendentes estão resumido em LEME, Luiz Gonzaga da Silva, "Genealogia paulistana", vol. V, Título "Toledos Pizas", cap. II, § 2.o, pág. 507, nota (1).

[4] Processo de genere de Fortunato Cândido Drummond Rocha e João Ricardo da Costa (Conceição da Praia, 1806). Arquivo do Laboratório Reitor Eugênio de Andrade Veiga (LEV), Universidade Católica de Salvador (UCSal), Cx. 7; E. 1; 23 Ge-20; no. 24.

A correspondência entre os Drummonds da Madeira e da Escócia (documentos)

Aqui reproduzo alguns dos documentos citados no texto "Os Drummonds da Madeira e as correspondências com a Escócia", neste blog.

1. Atestado emitido pelo governo escocês confirmando que João Escócio era do clã Drummond
2. Carta de David, Lord Drummond, chefe do clã, para os descendentes de João Escócio na ilha da Madeira
3. A carta do item 2 na sua língua original, o inglês
4. Carta de brasão emitida pelo rei de Portugal, d. João III, para os Drummond da Madeira
5. Carta do rei da Inglaterra, James I, para o rei da Espanha, Felipe II
6. Carta do mensageiro inglês, William Crawford, que fora à Madeira


1. ATESTADO emitido pelo governo escocês confirmando que João Escócio era mesmo do clã Drummond. O atestado foi requerido pelos descendentes de João Escócio na ilha da Madeira em 1519 e foi concedido em 1525. Abaixo, a tradução para o português do original em latim, que aparece em Noronha (1700) [1], que disse que tinha o documento em seu poder.. Atualizei a ortografia para os tempos atuais e fiz uma divisão temática do texto, que originalmente era inteiriço, para melhor compreensão. Data: 18 de maio de 1525.

Parágrafo do texto principal onde este documento é citado

[Preâmbulo]

Em nome de Deus, Amém.

[Destinatários] A todos e a cada um de qualquer estado, ordem, condição ou dignidade que seja que as prezentes letras e instrumento público hajam de ver, ler e ouvir,

[Data] que, no anno da encarnação do Senhor, comforme o modo da Igreja escocesa, de mil  quinhentos vinte e cinco anos, aos dezoito dias do mês de maio, indicção treze; e no segundo ano do Pontificado do  Santissimo em Cristo, Pai e Senhor nosso, Clemente, por divina Providência Papa, sétimo; no duodécimo ano do reino do Excelentíssimo Príncipe e Senhor nosso, Senhor Jacob, ilustríssimo Rei de Escócia, quinto, 

[Local] no Paço do Reverendíssimo em Cristo, Pai e Senhor nosso, Senhor Jacob, por Graça de Deus e da Sé  Apostólica, Arcebispo de Sancto André, Primaz de todo o Reino de Escócia, Legado e  Cancelário do mesmo Reino e Commendatário perpétuo de Dumferling e do Conselho do dito Supremo Rei nosso, abaixo do Burg de Edimburget,

[presentes] e em presença do meu Notário Público e das testemunhas abaixo escritas,

[a equipe que analisou as informações] pessoalmente apareceram os nobres e poderosos varões: Archibaldo, Conde de Angusia e Senhor de Duglas; Jorge, Conde de Huntley e Senhor de Gordon; Roberto Barton, Senhor de Barton, antes chamado Rotulator do Conselho Supremo d’El Rei, nosso Senhor e Governador do Senhor David Drummond de Stobhall, pupilo; João Drummond, Senhor de Bordland; Jacob   Drummond, Senhor de Pit; David Drummond, Senhor de Milnab; e Guilherme Drummond, Senhor de Pitcorne, da geração e família do dito David, Senhor de Drummond de Stobhal, gozador por longa successão de tempos;

[em honra da verdade] os quais todos e cada um disseram que, porque a verdade se havia de preferir à amizade e se da uma e da outra se tratara a questão, mais santo era honrar a verdade, de onde vinha que os ditos Senhores Condes, Barões e Nobres, não com dádivas nem amizade, mas só movidos da verdade, deram testemunho certíssimo e veríssimo, e de presente o dão, que:

[Testemunho]

[Informação que receberam]

[souberam que John Drummond morreu na madeira] vindo-lhes à sua noticia, de maneira que há cem annos ou mais, que o Senhor João de Drummond, filho do Senhor João de Drummond de Stobhall, na Ilha da Madeira morreu;

[e que lá mudou de nome] o qual, enquanto viveu, porque era escocês, não usando de próprio vocábulo de sua geração e ascendencia, como costuma muitas vezes acontecer àqueles que se mudam para nações estranhas, mas usando da língua portuguesa, ou de outra qualquer particular, os homens daquela Ilha lhe costumaram chamar João de Escócia;

[mas contou sua origem a alguns] o qual, não se esquecendo de sua nobreza pelas grandes partes de seu ânimo, veio a enriquecer muito; e, porque seus filhos depois não viessem nem fossem tidos e respeitados, por de geração obscura e baixa, descobriu estas coisas a seu Confessor e a outros:

[o que contou] e de que maneira, deixando o Reino de Escócia, se partira para a dita Ilha da Madeira, e que aí casara e gerara muitos filhos e filhas, os quais depois, até estes tempos presentes, deste tronco, em aumento e louvor da Religião Cristã e honra desta nobre família de Drummond, se estenderam e nasceram mais de cem pessoas;

[Conclusões a que chegaram]

[os nobres pesquisaram a veraricade da informação e concluíram o seguinte] pela qual causa, sendo chamadas em ajuntamento muitos da nobre família de Drummond e revolvendo-se diligentemente as armas e antiguidades da dita família, conforme ouviram e alcançaram de seus antepassados, e certíssima e indubitalvelmente conheceram que:

[filiação de João Escócio] o dito Senhor de Drummond, que na Ilha da Madeira faleceu, fora filho do Senhor João Drummond de Stobhall, o qual era irmão da Ilustríssima Senhora Anabela, Rainha da Escócia, da qual, successivamente por linha direita, os nobilíssimos Reis da Escocia sucederam, dos quais o quinto mancebo ainda nestes nossos tempos reina ditoso.

[era irmão de Malcolm, conde de Marren] E que o mesmo fora irmão do nobilíssimo Senhor Malcolm de Drummond, Conde de Marren, e que nascera juntamente com quatro irmãos de preclara nobreza, de uma filha do nobilíssimo Senhor Milo de Santo Claro, Conde de Orcadia,

[as viagens de João Escócio] o qual Senhor João de Drummond, morto seu pai e Senhor João de Drummond de Stobhald, por ser homem magnânimo e mui desejoso de conhecer várias nações e correr diversos reinos, deixando o reino de Escócia, seguindo melhor fortuna a que a esperança o guiava, se partiu para França, e daí para o reino de Granada para pelejar contra os inimigos de Cristo contrários de graça aos Cristãos; e depois se partiu para a Ilha da Madeira, onde, como acima fica dito, deixando muita geração, morreu.

[era irmão de Walter de Stobhall] E o mesmo era irmão do Senhor Walter, Senhor de Stobhall, da nobre e ínclita família de Drummond, da qual descenderam quase todos os grandes, Duques, Condes e Barões do Reino de Escócia, e a mesma nobreza real, ou pelo menos são conjuntos em sanguinidade e afinidade aos progenitores da mesma familia de Drummond;

[Relato da tradição]

[para manter a tradição] e, para que, começando dos princípios, apareça mais acrescentada a honestidade e honra desta família e a base e origem deste Reino dos Escoceses, de onde se estenderam tantos nobilíssimos ramos, em todos seja  claro e manifesto, passados pouco menos de quinhentos annos:

[Edgar Aethling] Edgar, filho de Duarte, Rei de Inglaterra, morto seu pai, sofrendo [os] muitos infortúnios de seu reino e fugindo a um irmão de seu pai, que tiranicamente pretendia tomar-lhe o reino,

[Mauritz aconselha a fuga] por conselho e persuasão de um nobilíssimo e prudentíssimo varão que El-Rei húngaro tinha mandado com sua filha, mãe do dito Edgar, quando se veio receber com o dito Duarte à Inglaterra para a aconselhar com sua Mãe Margarida,

[naufragam na costa da Escócia] se embarcaram para Hungria e, levantando-se uma tempestade, deu com eles em uma enseada do mar de Escócia;

[Malcolm III manda resgatar os náufragos] e sabendo Malcolm, Rei dos Escoceses, do dito naufragio, mandou alguns dos grandes de seu Paço, que, se algum daqueles nobres ingleses escaparam do perigo do naufragio, lhos levassem,

[casamento de Malcolm III com Margareth] aos quaes, incitando com a fertilidade da terra, se casou com a Margarida, a qual, além de outras obras esclarecidas que fez, foi o celebérrimo Mosteiro de Dumferlino, trazendo para ele varões de grande e admirável religião, e o dotou de possessões mui amplas, a qual esclareceu e esclarece em muitos milagres e é muito celebrada e honrada no catálogo dos Santos de Escócia.

[o húngaro caiu nas graças da rainha] Esta sanctissima Rainha e seu Marido, Rei dos Escoceses, foram mui inclinados àquele húngaro que, dissemos, fora progenitor desta família de Drummond, e tão conjunto por consanguinidade com a Rainha que o enriqueceram com amplíssimos dons e mercês e senhorios, e dos quaes até esta hora gozam os successores do dito progenitor;

[o nome "Drummond] e, para que a origem de Drummond com diuturnidade do tempo não perecesse e se acabasse na memória dos homens, o primeiro senhorio que a dita Rainha ao progenitor foi chamar-lhe Drummond, a qual palavra em latim quer dizer enchente e suma de aguas;

[o brasão] e por esta causa deu por armas, a esta insigne família, as ondas do mar flutuoso de rúbia em um campo de ouro, em sinal do perigo em que esta Rainha se viu no mar, para o progenitor e seus descendentes; e que essas armas fossem levadas por dois homens silvestres, porque aquele Senhorio naquele tempo era silvestre; o mandou sustentar e trazer, assim como todos os daquela família até hoje trazem e mandaram aos seus parentes que na Ilha da Madeira moram o trouxessem;

[Finalização]

[para que se dê crédito ao documento] e, pâra que em todo lugar se dê crédito a todas e a cada uma das coisas que neste presente instrumento, com seus escudos de armas e subscrições de suas próprias mãos e com escudo do dito Senhor David, Senhor moderno de Drummond, no qual estão esculpidas as insígnias da família de Drummond, em fé e testemunho do sobredito será comum; e, para que se dê maior crédito a seus testemunhos junto ao do Reverendíssimo Senhor Arcebispo e Cancelário,

[selo do rei e assinatura do notário] pediram que se dependurasse aqui o selo grande do supremo Senhor Rei, nosso presente; e por mim, Notário Público com juramento da Sé Apostólica, em presença das testemunhas abaixo escritas, me mandaram subescrevesse e assignasse;

sobre as quais coisas todas e cada uma delas, o dito Roberto Berton, Senhor de Berton, do Conselho do dito Supremo Senhor Rei nosso, pediu a mim, Notário Público, um ou muitos publico ou publicou instrumento ou instrumentos;

[local e data] e foram feitos no dito logar, no Reino de Escócia, junto ao meio-dia, no ano, dia e mês, indicção e Pontificado dito no princípio.

[Testemunhas presentes] Estando aí presentes os Reverendos Padres em Cristo Gavvino, pela Misericórdia de Deus Bispo de Charia,   do registro dos rótulos e do Conselho do Senhor Nosso Rei Jacob; Bispo Dumblamente; os nobres e poderosos Senhores Colino, Conde Ergalia; o Senhor Campbel e Lorne; João, Conde de Lennox e o Senhor de Derville; Berto, Conde de Gloncarne, Senhor de Falmaver; João Lindsey, Senhor de Petring; João Stremevilg, Senhor de Hert; Jacobo Toveert, Senhor de Imerslet; soldados, João Chartres, Senhor de Avis; Mestre David Lengorne; Senhor Alexandre Scat; Capellão Adam Read de Sterquinet; com outras muitas testemunhas rogadas para a verdade destas cousas.

[assinatura do notário público] E eu, Mestre João Chapman Clascogen, por apostólica autoridade Apostólico Notário, porque, passando todas as coisas e cada uma delas assim e da maneira que estão ditas, juntamente com as testemunhas nomeadas, a que tudo me achei presente, e todas estas cousas e cada uma delas vi fazer e ouvi e alcancei; por isso fiz instrumento público escrito por minha mão e subescrevi e publiquei; e com o sinal, nome e subscrição que costumo; e assignei rogado e requerido em testemunho da verdade de todas e cada uma das cousas acima declaradas

João Chipman etc.


2. CARTA de David, Lord Drummond, chefe do clã, para os descendentes de João Escócio na ilha da Madeira, datada de 1519. Foi enviada juntamente com o atestado do item 1. O origial está em inglês; abaixo, uma tradução para o português [2]. Data: 1º de dezembro de 1519.

Parágrafo do texto principal onde este documento é citado

Queridos e bem-amados primos. Recebi, e deu-me muita satisfação, a vossa carta da Ilha da Madeira de 02/07/1519, trazida para a Escócia por Tomaz Drummond, nosso parente, e, de acordo com a nossa plena e peerfeita informação0, também sabemos que um certo João Drummond, há cerca de 100 anos, partiu da Escócia e se estabeleceu na Ilha da Madeira, onde a sua geração tem aumentado até 200 homens, mulheres, filhos, netos e bisnetos, seus descendentes, e que o dito João Drummond, vosso predecessor, escondeu até a sua última hora, aos da ilha, e aos que com ele conviviam, o seu nome, sangue e geraçã9o0, pelo que a verdeade do seu nascimento ficou encoberta, até que, perto da morte, a descobriu ao confessor e a outros chamados para testemunhas, e disse que, conformando-se com a língua portuguesa, passou a usar o nome de João Escócio, em lugar do seu verdadeiro nome, que era João Drummond.

    A fim de vos dar inteiro e suficiente esclarecimento sobre a origem do vosso ascendente e seu antepassado, mando-vos a seuginte notícia. Um nobre Lord, João Drummond de Stobhall, nosso quinto avô, era irmão da ilustre Lady Anabela Drummond, rainha da Escócia, da qual em lijnha reta descendem cinco dos mais ilustres reis da Escócia, sendo o atual reinante o quinto desta série. Este João era também irmão de Malcolm, conde de Mar, que morreu sem filhos; e ao qual, João seu irmão, sucedeu, tendo casado com Isabel, filha do mui nobre Lord Henrique Sinclair, conde de Orkney, da qual teve vários filhos e primeiro foi Walter Drummond, senhor de Stobhall, nosso quarto avô, e o mais novo, João, vosso antepassado, que, sendo um galante gentil homem, conforme verdadeira informação dos mais antigos de nossa família, há uns 100 anos foi para França em busca de honra e fama e de quem nunca tivemos quaisquer notícias antes da vossa carta, pelo conteúdo da qual investigamos detalhadamente, com o nosso mais velho parente, e, depois de muito procurar, chegou-se à conclusão de que só ele, cerca dessa época, e com esse nome, partira da Escócia; de maneira que estamos firmemente persuadidos, e com o resto de vossos parentes afirmamos, que o citado João Escócio, vosso bisavô, era filho do dito João Drummond, Lord de Stobhall e irmão de Walter Drummond, e que ele descende da nossa antiga casa e comuns predecessores, o qual deu origem a notórios duques, condes, barões deste reino, e ainda aos nossos reis. Além disso, e afim de que o pirncípio da nossa raça no reino da Escócia possa mais calramente ser conhecido, dir-vos-hei que há perto de 500 anos, um rei da Inglaterra, herdeiro dierto à coroa (embora nunca tivesse reinado), chamado Eduardo, o Proscrito, filho de Edmundo Costas-de-Ferro, estando exilado na Hungria, casou com Ágata, irmã da rainha SOfia, mulher de Salomão, rei da Hungria, e filha do imperador Henrique II, e gerou um filho, Edgard Atheling, e duas filhas, Margarida e Cristina. Eduardo, o Proscrito, veio da Hungria com o seus filhos para a Ingalterra, onde morreu; seu filho Edgard Atheling e sua irmã, fugindo de Guilherme, duque da Normandia, então conquistador da Inglaterra, regressaram à Hungria, para maior segurança dos seus títulos à coroa, fazendo-se ao mar sob o comando de um certo húngaro, seu primo e conselheiro, mas, pela violência duma tempestade, foram atirados às costas da Escócia, e desembarcaram num lugar atualmente chamado Baía da Rainha Margarida ou de Santa Margarida.

    Malcolm Keandmore, então rei dos escoceses, e que tinha a corte perto do lugar, foi em pessoa, como alguns dizem, ou, segundo outros, mandou uma honrosa mensagem, a convidá-los para a suja casa, onde foram regiamente tratados; e o rei, impressionado com a beleza e as virtudes da irmã de Edgard, Margarida, com ele se casou e fê-la rainha, com grande contentamento de todos os súditos.

    Para que a maioria de nossa raça, através dos tempos, se não perdesse, o citado rei e a rainha deram ao nosso antepassado húngaro um senhorio e um título de nobreza, a saber: Drummond, para ele e seus descendentes, e um brasão de armas, como distintivo de honra, em campo de ouro, faixas ondeadas de vermelho, e como suporte, a selvagens; tudo isto pode ser lido no atestado que mando, com o selo real de Escócia, e o selo e assinaturas de todos os membros do Conselho então presentes, as quais armas, como nós mesmos as usamos, assim nós vo-las mandamos (para usardes delas) por um portador daqui, ao qual podeis dar crédito. Mas, se preferirdes, manda-nos um dos vossos, que saiba falar a língua latina (porque a língua portuguesa nos é totalmente desconhecida), nós tratá-lo-emos como nosso próprio filho.
    (...)
    Castelo de Drummond, 01/12/1519. David, Lord Drummond.

    Tradução da carta de Lord Drummond (escrita em inglês) a seus primos da ilha da Madeira.

3. A carta do item 2 acima na língua orginal, o inglês, copiada do livro do visconde de Strathallan, pág. 93 [3]. Obs.: Foi mantida a grafia do inglês de 1681. Data: 1º de dezembro de 1519.

Parágrafo do texto principal onde este documento é citado 

"Dear and welbeloved Cusines, I have receaved, and understood//
much to my comfort, and with a very good will, your letter from the//
Ile Madera, of the 2d of July, in the year of our Redemption 1519,//
brought to Scotland by Thomas Drummond, our kinsman; and//
according to youre plenarie and full information, I find that a certaine//
gentleman, John Drummond, about 100 years agoe, departed from//
Scotland, and setled himselfe in the Ile of Madera, where his gene-//
ration happily increassed to the number of 200 men, women, and//
[94]
children, and grand-children, descended of him; and that the said//
John Drummond, youre predicessor, concealed to his latter time from//
them of the Island, and those he conversed with, his name, blood, and//
generation, whereby the original of his extraction, and what belonged//
to his posterity therein, remained till then covered; save that about//
his end, he disclosed to his ghostly father in confession, and others//
called for witnesses, that he, accommodating himselfe to the Portugal//
tongue, went by the name of John Escortio, whereas his own proper//
name was John Drummond.

"For giveing you a full and sufficient certaintie of the nativitie and//
extraction of youre progenitor and his forbeers, you shall receave the//
following relation. A noble Lord, John Drummond of Stobhal, our//
great-grandfather's great-grandfather, was brother to the illustrious//
Lady Annabella Drummond, Queen of Scotland, from whom lineallie//
are descended Five most excellent kings of Scotland, whereof the Fifth//
at this time most gloriously reigneth. This John was also brother to//
Malcolm, Earle of Mar, who dyed without children; and to whom John//
his brother succeeded, who married Elisabeth, daughter to the right//
noble My Lord Henrie Sinclar, Earle of Orkney, by whom he had//
diverse children; the first Walter Drummond, lord of Stobhal, our//
great-grandfather's grandfather, and the youngest John youre ancestor;//
who, being a gallant and heigh spirited gengleman, according to the//
true information of the ancientest of our trybe, about 100 yeares agoe,//
went to France to seek honor and reputation; of whom we never heard//
any tydings before youre letter, the contents whereof we have with//
the oldest men of our kindred, particularly examined, and after much//
search, it's found that he only about that tyme, and of that name, went//
from Scotland; so that we are assuredly persuaded, and, with the rest//
of our friends, affirm, that the foresaid John Escortio, youre grandfather's//
grandfather was sone to the said John Drummond, lord of Stobhall,//
and brother to Walter Drummond, and that he descended from our//
[95]
ancient House and predeccessors; as lykewise have done the cheafe//
dukes, earles, and barrons of this Kingdome, and even the Royall race//
of our Kings also.

"Furthermore, to the end, that the maine ground and foundatione//
of our gentilitie in the kingdom of Scotland, may more cleerely be//
known unto youre Worthines, understand that near 500 yeares agoe,//
a King of England, righteous aire to the crown, albeit he never injoyed//
it, called Edward the Outlaw, sone to Edmond Ironsyde, being an//
exile in Hungarie, married Agatha, sister to Queen Sohpia, wife to//
Solomon king of Hungarie, and daughter to the Emperour Henrie//
the second, and begot a sone, Edgare Atheling, and tuo daughters,//
Margaret and Christian. Edward the Outlaw came from Hungarie//
with his children to England, where he dyed; his sone Edgar Atheling//
and his sisters flying from William Duke of Normandie, then conquer-//
our of England, back to Hungarie fo rsafety for fear of danger, because//
of theire title to the crown, tooke the sea under the conduct of ane//
Hungarian gentleman, their Cusine and Councellor, bot by the vio-//
lence of a storme, were driven upon the Scotish shore, and landed at//
a place, called to this day, Queen Margaret of St. Margaret's Hoop.

"Malcolm Keandmore, then King of Scots, haveing his court near//
the place, went himselfe, as some say, or, as others, sent ane honourable//
message to invite them to his court, where they were royally enter-//
tained, and the King being taken with the beautie and deportment//
of Edgar's sister Margaret, married her for his Queen, to the great//
contentment of all his subjects.

"And to the end the root and original of our Posteritie and kindred//
through lapse of time should not decay, the foresaid King and Queen//
gave unto our Hungarian forefather, a Lordship and name of Gentrie,//
to wit, Drummond, and to him and his posteririe, a coat of armes, as//
a badge of honour: Sea waves of red collour in a golden shield, sup-//
ported by tuo favage or wyld men; all which you may read, attested//
[96]
under the great seal of Scotland, with the seals and subscriptions of//
every member of the Councell then present, sent to you heirewith;//
wich armes, as we bear them oure selves, so we send them to yow for//
youre use by the bearer heireof, to whom you shall be pleased to give//
credit. Bot if you would be pleased to send us one of youres, who can//
speake the Latine tongue, because the Portugal language is altogether//
unknowen to us, we should use and treat him as our own sone.

"In the mean time thanking you heireby, and accepting youre//
letters more gratefullie out of the hands fo the said Thomas Drum-//
mond, then if he had brought us ten thousand crowns, for none can//
doe us a more acceptable kindnes then to bring us certaine tydings//
of the welbeing and increass of oure generation and kindred amonst//
strangers, as we understand by youre letters, wich we pray God to//
bless with the increase of all posteritie and happines.

David Lord Drummond.

"At Oure Castle of Drummond,
"the 1 of Decemb. 1519.

"For our dear and welbeloved Cusines Manuel Alphonso//
Feriera Drummond, and his bretheren, Gentlemen in the//
Ile of Madera."

4. CARTA DE BRASÃO emitida pelo rei de Portugal, D. João III, em 1538, a pedido dos descendentes de João Escócio na ilha da Madeira. Abaixo, a tradução para o português do original em latim, que aparece em Noronha (1700) [1], que disse que tinha o documento em seu poder.. Atualizei a ortografia para os tempos atuais e fiz uma divisão temática do texto, que originalmente era inteiriço, para melhor compreensão. Data: 19 de março de 1538.

Parágrafo do texto principal onde este documento é citado 

[Quem fala] Dom João, por Graça de Deus Rei de Portugal e dos Algarves, daquém e dalém mar, em África Senhor de Guiné e da Conquista, navegação, comércio da  Etiópia, Arábia, Pérsia e da Índia; a quantos esta minha Carta virem:

[Petição]

[Ascendência do suplicante] Faço saber que Diogo Pires Drummond, morador na minha Ilha da Madeira, me fez petição como ele descendia, por linha direita sem bastardia, por parte de sua mãe e avós, de geração e linhagem, dos Drummonds de Escócia, que naquele Reino são fidalgos de cota de armas e de solar conhecido, e das principais casas do reino;

[para manter a memória e garantir os privilégios] pedindo-me por mercê que, pela memória de seus antecessores se não perder e ele gouvir e usar da honra das armas que pelos merecimentos de seus serviços ganháram e lhe foram dadas, e assim dos privilegios, honras, graças e mercês que por direito por bem delas lhes pertence,

[pediu carta de armas] lhe mandasse dar minha Carta das ditas armas que estavam registradas nos Livros dos Registros das armas dos Nobres e Fidalgos de meus Reinos que tem Portugal, meu principal Rei de armas;

[Verificação das informações da petição]

[o rei mandou inquirir testemunhas] a qual petição, vista por mim, mandei sobre ela tirar inquirição de testemunhas, a qual foi tirada por meu mandado pelos meus Desembargadores do Paço;

[a ascendência do suplicante que se comprovou] pela qual prova ele, suplicante, descender da dicta geração dos Drummonds de Escócia, como filho legítimo que é de Andreza Gonçalves Drummond, que foi filha legitima de Joana Escocia de Drummond, que foi filha legitíma de João Escócio Drummond, bisavô dele, suplicante, que foi filho de D. João Drummond, Senhor de Escobar em Escocia, irmão de Anabela, Rainha de Escócia, o qual procedia e descendia dos principais Senhores de Escócia da nobre casa de Drummond;

[como foi provado] segundo que tudo isto claramente se provou por instrumentos públicos e autênticos, selados com os sellos da Chancelaria d’El Rei de Escócia e dos outros Senhores do Reino, que foram approvados por meus Desembargadores do Paço;

[Concessão do brasão]

[o rei concedeu o brasão] pelo que de direito as suas armas lhe pertencem, as quais lhe mandei dar esta minha Carta com seu Brasão, Elmo e Timbre, como aqui são divisadas e registradas nos livros dos registros do dito Portugal, meu Rei  de armas;

[o brasão] as quaes armas são as seguintes: “Um escudo com o campo de ouro e três faxas onduladas de vermelho, e por differença uma brica de verde com um D. de ouro; elmo de prata aberto guarnido de ouro, paquife de ouro e de vermelho com sua colheira de ouro”;

[como o brasão deverá ser usado] o qual escudo, armas e sinais possa trazer e traga o dito Diogo Pires de Drummond, assim como as trouxeram e delas usaram seus antecessores, em todos os lugares de honra em que os ditos seus antecessores e os nobres e antigos fidalgos sempre costumaram a trazer em tempo dos mui esclarecidos Reis, meus antecessores; e com ellas possa entrar em batalhas, campos, duelos, reptos, escaramuças, desafios, e exercitar com elas todos os outros atos lícitos de guerra e de paz; e assim as possa trazer em seus firmais, anéis, sinetes e divisas e as pôr em suas casas e edifícios; e deixá-las sobre sua sepultura própria; e finalmente se servir, honrar e gouvir e aproveitar delas em tudo e por tudo como a sua nobreza convém;

[Finalização]

[este documento deve ser cumprida] porém, mando a todos os meus Corregedores, Desembargadores, Juízes e Justiças, Alcaides e, em especial, ao meu Rei de Armas, Arautos e Passavantes e a quaisquer outros Oficiais e pessoas a que esta minha Carta for mostrada e o conhecimento dela pertencer, que em tudo lha cumpram e guardem e façam cumprir e guardar como nela é conteúdo, sem dúvida nem embargo algum que em ela lhe seja posto, porque assim é minha mercê.

[Local e data] Dada na minha mui nobre e sempre leal Cidade de Lisboa aos dezenove de Março.

[Assinaturas] El Rei o mandou pelo Bacharel Antônio Rodrigues, seu principal Rei de Armas. Antonio de Holanda, por Pedro de Évora, Escrivão da Nobreza, a fez, ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil quinhentos trinta e oito annos.

Portugal, Rei de Armas. 

5. CARTA do rei da Inglaterra, James I, para o rei da Espanha, Felipe II, pedindo-lhe que concedesse aos Drummond da Madeira os mesmos privilégios que o rei de portugal, D. João III, havia concedido (ver documento 4 acima). Abaixo, a tradução para o português do original em latim, que aparece em Noronha (1700) [1], que disse que tinha o documento em seu poder. Atualizei a ortografia para os tempos atuais e fiz uma divisão temática do texto, que originalmente era inteiriço, para melhor compreensão. Data: 12 de agosto de 1613.

Parágrafo do texto principal onde este documento é citado

Jácobo, por mercê de Deus rei da Grã-Bretanha, França e Hibérnia, Defensor da Fé etc., ao Sereníssimo Príncipe e Senhor Filippe Terceiro, Rei das Espanhas, de ambas as Sicílias, de Jerusalém, das Índias etc., Arquiduque de Áustria, Duque de Borgonha e de Milão etc., Conde de Ausburgo Ferrol etc.

Sereníssimo Rei, irmão, parente e amigo,

nosso mui amado Martim Mendes de Vasconcelos, que vive na Ilha chamada de São Pedro, nas partes do Brasil, nos pediu por sua petição que quiséssemos fazer certo a Vossa Magestade como ele e os mais de sua geração que vivem no Brasil ou na Ilha da Madeira descendem da antiga e nobre familia dos Drummonds, no nosso Reino de Escócia; e o mesmo nos pediram as principais cabeças da mesma geração dos Drummonds, dizendo que têm achado por certo que as gerações sobreditas do Brazil e Ilha da Madeira dependem de seus antepassados;

nós, inclinando-nos de boa vontade, confirmamos decerto que os sobreditos descendem da familia e geração dos Drummonds; e, constando-nos a nós, da nobreza e família de Martim Mendes e da honra e lugar em que eu tenho em meus Reinos as Cabeças e Principaes desta familia;

assim, por razão de sua nobreza como do estreito parentesco que conosco tem, não menos vo-lo-hei por encomendado do que antigamente o foram seus antepassados, os Reis de Portugal, vossos avós, queremos-vos pedir isto, para que Martim Mendes entenda quanto nós para comvosco podemos e valemos, fazendo vós grande caso dele e de todos os demais de sua geração que estão em vossos Reinos e Senhorios;

e vos rogamos que o mesmo Martim Mendes no primeiro lugar, depois dele todos os mais parentes seus, acham em vós aquele favor e mercê, e muito maior se for necessário, que acharam nos Reis de Portugal, vossos avós;

nós, consequentemente, se houver alguma ocasião e algum dos vossos espere e queira nossa mercê, nós lhe faremos mui compridamente. Deus, Nosso Senhor, guarde a Vossa Magestade e conserve seus Estados por largos anos.

Dada em nossa Corte de Sensbursense, doze de agosto, Ano do Senhor de mil seiscentos e treze. De Vossa Magestade, irmão que muito vos ama, El Rei Jácobo

6. CARTA do mensageiro inglês, William Crawford, que fora à ilha da Madeira entregar aos Drummonds de lá as respostas do rei da Inglaterra a seus pedidos de recomendação ao rei da Espanha. A carta está na língua orginal, o inglês, e copiei do livro do visconde de Strathallan, pág. 101 [3]. Obs.: Foi mantida a grafia do inglês de 1681. Data: 3 de julho de 1614.

Parágrafo do texto principal onde este documento é citado

"My Noble Lord,

After I came out of England, bound for this place, I was robbed//
by pirrats, and forced to goe to Barbarie, which hes been a great//
prejudice to youre Honors kinsman Martine Mendez de Vasconselles//
Drummond, in regard the letters I carried to him were of ane old//
date. I arrived heire upon the 10th of Aprylle 1614, where many//
Gentlemen of the Drummonds did exceedingly rejoice. I delivered//
The Kings letter and youre Lordhip's to the said Martine, who is//
now gone to the Court of Spaine, not doubting so good success with//
his Majestie there by youre Honors means; for we have heard//
already that the King of Spaine hes conferred upon him the honor//
of being one of the Knights of St. James. Nevertheless it was his//
desyre youre Honor should recommend him to the English ambassa-//
dor at Madrid; and if it were possible to purchass a new letter from//
youre King to his Majestie of Spaine, and also others from the//
Spanish ambassador to some of the nobles at Madrid; for the doubts//
nthing of youre Lordhips care of what concerns him. The original//
certificat, testifying his descent and his friends from youre Honors//
house, and the accompt of the begining of youre family, I have seen,//
with many sealls affixed thereto; whereof he and his freinds make so//
great accompt, that they preserve it as the rarest jeuel in the world,//
whereof youre Lordship shal receave with his own letter ane exact//
transumpt, with all that followed thereon.

[102]
In the ship with thir papers goes foure chiests of excellent sweet-//
meats, directed to the right noble Lady Jean Drummond, Comtess//
of Roxburgh, whereof tuo for herselfe, and tuo for youre honor, one//
with dry succads, and the other with wett: upon your tuo chests//
there is wrytten "For the Ry.t Honourable the Earle of Perth,"//
which is sufficient to know them by. He sent to Barbarie for a fine//
horse to youre honor against next spring. Moreover, if youre h onor//
will permit me to bring one of his little sones to be a page to yow, I//
shall doe it, for he is very willing to send him. So, expecting youre//
Honors ansuere, I commit yow to the protection of the Almightie.

Youre Honors humble servant till death.

W. Craufurd.

From the Island of//
Madera, July 3d, 1614.


Referências

[1] NORONHA, Henrque Henriques de, "Nobiliário Genealógico das Famílias" (1700). Disponível em PDF no site do Centro de Estudos de História do Atlântico. Existe também uma versão em DVD comercializado.

[2] Copiei a tradução do artigo: DRUMMOND, Antônio Augusto de Menezes, "A heráldica da casa de Drummond", Revista do Instituto Genealógico Brasileiro, volume 3 (1937), pág. 32, "XX - D. João Escócio de Drummond".

[3] STRATHALLAN, visconde de (William Drummond). "The genealogy of the most noble and ancient house of Drummond" (PDF). A. Balfour & Co., Edinburgh, 1831; impressão privada, 1889. Primeira edição em livro: 1681.

Antônio João de Freitas Carvalho Drummond

Detalhe da pintura de Carlos Julião
(1740-1811), representando a
mineração de diamantes no Distrito
Diamantino de Minas Gerais,
segunda metade do século XVIII.
A imagem pode ser encontrada na
obra "Riscos Iluminados de
Figurinhos de Negros e Brancos
dos Uzos do Rio de Janeiro e Serro
Frio", Biblioteca Nacional, Rio de
Janeiro, 1960, gravura 41. Antônio
João de Freitas Carvalho Drummond
minerava ouro, não diamantes.
Como chegou a guarda-mor, é
possível que, em algum momento da
sua vida, tenha estado em uma
situação parecida com a desses
dois senhores uniformizados que
gerenciam o trabalho dos negros.
Link para imagem original

Antônio João de Freitas Carvalho Drummond foi quem trouxe um importante ramo da família Drummond para Minas Gerais. Dele descende o poeta Carlos Drummond de Andrade, seu tetraneto [1].

Nasceu em 1723 na ilha da Madeira, domínio português no Oceano Atlântico [2], filho de Antônio de Carvalho Drummond e de Inácia Micaela de Freitas Henriques. Àquela altura, já havia começado a corrida do ouro em Minas Gerais que provocou intensa migração para lá a partir da Madeira, dos Açores e de Portugal continental.

1. A ida para Minas
2. Os ancestrais nobres de Antônio João
3. O casamento e o que fazia naquela época
4. O guarda-mor e o caminho para o Cuieté
5. A descendência
6. Linha de João Escócio até Antônio João
7. Linha de Antônio João até o autor
8. Referências


A ida para Minas

É difícil saber quando Antônio João apareceu em Minas. A primeira notícia que tenho dele naquele local já é de 1768, quando providenciava os documentos necessários para seu casamento (uma requisição enviada à ilha da Madeira para obter uma cópia da certidão de casamento de seus pais [3]). O matrimônio aconteceu apenas em 1770. Naquela época, era comum que a burocracia transoceânica demorasse dois, três ou até mais anos para se realizar.

Naquele momento, Antônio João havia se estabelecido na freguesia de São Miguel, que abarcava vários municípios atuais, como Rio Piracicaba, Nova Era e Antônio Dias. Há indicações de que morava próximo à fronteira entre a freguesia de São Miguel e a parte da freguesia de Santa Bárbara que em 1825 se separaria e se tornaria a de Itabira. Há menções a uma "Fazenda Drummond" de sua propriedade na região de Itabira, que seus filhos herdaram [4].


Os ancestrais nobres de Antônio João

É possível que ele já tivesse partido da Madeira com alguma riqueza, porque era bisneto do proprietário do morgado de São Gil, na Madeira. O morgado era uma institução europeia pela qual os bens principais de uma família (como as terras) passavam para um único dos filhos em cada geração, em geral o primogênito, ao invés de serem divididos entre eles. Era uma estratégia para manter os bens dentro da família ao longo do tempo.

O morgado de São Gil havia sido instituído na quinta de Santa Cruz no início do século XVI ou fim do XV por uma das filhas de João Escócio (o escocês que trouxe o sobrenome Drummond para a Madeira), Beatriz Escócia. A quinta fora propriedade de seu marido, Antão Álvares de Carvalho, português que se estabeleceu na ilha. Beatriz estipulou que todos os descendentes donos desse morgado deveriam se chamar Sebastião Gil de Carvalho. Houve variações nos sobrenomes e nem todos se chamaram Sebastião, mas várias vezes isso foi feito e Sebastião Gil de tornou nome de família que se repetiu pelas gerações [5].

Além disso, Antônio João era também descendente do clã Drummond, da Escócia (veja aqui sobre as origens remotas desse clã).

Ao ficar mais velho, Antônio João se preocupou em garantir o vínculo de sua família à nobreza da ilha da Madeira. O governo emitiu uma carta de brasão em 1782. O brasão era dividido em quadro, representando quatro famílias ancestrais de Antônio João: os Carvalhos, os Costas, os Freitas e os Henriques [6]. Interessante que os Drummonds não são citados, mas os Carvalhos. Na verdade, o sobrenome "Drummond" era omitido do nome de Antônio João em várias ocorrências, inclusive na certidão de seu próprio casamento.


O casamento e o que fazia naquela época

Antônio João se casou em primeiro de novembro de 1770 com Maria Joaquina Gomes de Abreu, filha de Antônio Gomes de Abreu [7], proprietário da fazenda do Baú, em terras onde hoje fica o bairro do Baú, no atual município de João Monlevade.

Casou-se tarde, com 47 anos. Na região aurífera de Minas, a maioria dos homens se casava em torno de 22-24 anos naquela época, mas era comum que os imigrantes portugueses o fizessem muito mais tarde, às vezes com mais de 40 anos. Provavelmente, era o tempo necessário para que conseguissem se safar no novo ambiente, muito competitivo, a ponto de poder se estabelecer confortavelmente com uma família. De fato, um documento de 1773 mostra que Antônio João usou 40 de seus escravos para realizar uma obra de rebaixamento de uma cachoeira, pedida pelo governo (falarei mais dessa obra mais abaixo). Quarenta escravos era muito, indicava abastamento; provavelmente tinha bem mais, pois esses eram apenas os que foram usados na obra.

Há indicações de que as atividades de Antônio João se relacionavam com a mineração. Um documento bem mais tardio, de 1798, diz que sua ocupação era essa [8]. Porém, dados de documentos anteriores dão um vislumbre de outras atividades. Um deles, de 1771 [9], mostra que ele aproveitava plantações de cana para a produção de açúcar e de cachaça, com um engenho em sociedade com um certo João Francisco Siqueira.

O maquinário era movido pela força de bois. No entanto, os animais revelaram-se não serem apropriados; o maquinário exigia muito deles e havia grande mortandade. Em 1771, os dois sócios resolveram o problema construindo um engenho de água para servir de força motriz, provavelmente com uma roda d'água que aproveitava a força de um rio próximo. Esse caso aparece no documento de 1771 citado acima, pois era preciso pedir autorização ao governo para realizar tais empreendimentos.


O guarda-mor e o caminho para o Cuieté

O envolvimento de Antônio João com a mineração culminou com a sua nomeação a guarda-mor do distrito de Antônio Dias Abaixo, em 1773 ou um pouco antes disso. O cargo de guarda-mor é mais conhecido no âmbito da mineração; aí, sua função principal era dividir as terras minerais entre os seus exploradores. Cada quinhão chamava-se "data". Precisava, portanto, conhecer bem o terreno e suas possibilidades de produção de ouro. Nessa época (ou melhor, em 1778, para ser exato), esse distrito contava com 2.042 datas de terras minerais repartidas a vários mineiros, segundo um certificado do escrivão da guardamoria local.

No caso de Antônio João, ele era guarda-mor de terras e águas minerais. Assim, na mesma época, Antônio João realizou a distribuição das águas do rio para as terras minerais de Antônio Dias Abaixo.

Antônio João se envolveu com a construção da infraestrutura do transporte em direção a uma nova área recém-conquistada para os mineradores, no leste de Minas, especialmente no Cuieté (hoje Cuieté Velho, no atual município de Conselheiro Pena, perto da fronteira com o Espírito Santo). Apesar de conter ouro, aquela região havia sido deixada nas mãos dos índios botocudos pelo próprio governo português, para servir de barreira para contrabandistas e gente que queria se infiltrar nas minas sem ser registrada. A corte concluiu que a presença do gentio bravo era mais eficiente do que postos policiais. Porém, com a queda da produção na área da Serra do Espinhaço a partir de meados do século XVIII, vários mineiros da região aurífera foram procurar novas oportunidades no leste da capitania.

Entraram em choque, porém, com os índios de lá. Entre os pricipais contingentes de mineiros que tentavam se estabelelcer nas terras botocudas estavam os moradores do distrito de Antônio Dias Abaixo. Estes chegaram a enviar uma petição ao governador da capitania solicitando assistência material e reforços militares para se defenderem dos índios nas suas explorações no Cuieté.

O governador Luís Lobo da Silva (1763-1768) fez mais: organizou uma expedição militar de 150 homens e realizou uma guerra contra os botocudos. Era a chamada "Conquista do Cuieté". Não resolveu totalmente o problema, que se arrastaria século XIX adentro (em 1808, o governo português, já com sede no Rio de Janeiro, declararia a guerra aos botocudos); mas coseguiu o suficiente para que a atividade mineradora pudesse se estabelecer mais estavelmente no Cuieté e que a região do leste pudesse começar a ser povoada de forma mais consistente. Nos anos seguintes, foram construídas vias terrestres e fluviais para facilitar o trânsito para a região [10].

Como os mineiros de Antônio Dias estavam entre os principais interessados no empreendimento, era dali que um dos ramos da via fluvial deveria partir. Esta via era constituída pelos rios Piracicaba e Doce. Construir uma via fluvial significa eliminar barreiras à navegação, especialmente quedas d'água e corredeiras. Assim, em 1776, o novo governador da capitania de Minas Gerais, Antônio de Noronha, ordenou ao guarda-mor Antônio João que rebaixasse a Cachoeira Alegre, nas dependências de Antônio Dias, a fim de tornar esses rios navegáveis até a foz do Doce [11].

Antônio João fez o que lhe foi pedido às próprias custas, utilizando mais de 40 escravos seus e também fornecendo as ferramentas e a comida necessária. A obra durou seis meses. Além dos obreiros civis, entre as pessoas empregadas por ele (citadas em um dos documentos sobre esse episódio), carpinteiros, ferreiros, guardas e canoeiros.

O guarda-mor considerou o feito suficientemente importante para em seguida requerer ao governo português que seu filho mais velho herdasse seu cargo.

Além da via navegável, Antônio de Noronha mandou também construir uma estrada por terra até Cuieté; a obra foi feita durante o governo seguinte, de Rodrigo José de Menezes. Em 1779, este já convidava todos os interessados a se estabelecerem na região, prometendo sua proteção e preferência nas datas de terras [12].


A descendência de Antônio João de Freitas Carvalho Drummond

A genealogia dos descendentes de Antônio João está descrita no livro de José Tavares Drummond, "A família Drummond no Brasil" [13]. Foi publicado em fascículos a partir de 1965 e como livro em 1970, pelo Colégio Brasileiro de Genealogia. No início deste livro, é descrita a versão da origem da família Drummond entre os reis húngaros da dinastia Árpád, depois passando pelo clã Drummond na Escócia e pelos Drummond da ilha da Madeira (veja também um texto deste blog sobre o mesmo assunto).

Devo falar, porém, de uma das filhas de Antônio João que não consta da obra do José Tavares, Maria Narcisa de Freitas, nascida em 1782 e casada com Joaquim Dias Bicalho (este nascido em 1780) [14]. Esse Joaquim Dias Bicalho é provavelmente natural da freguesia de Santa Bárbara, onde moravam seus pais, Manuel Dias Bicalho e Leonarda Matilde de Jesus, na fazenda das Pacas. A fazenda das Pacas era próxima da fazenda do Baú de Antônio Gomes de Abreu, mas suas terras hoje encontram-se no município de São Gonçalo do Rio Abaixo [15]. Joaquim Dias Bicalho morou no arraial de São José da Alagoa, hoje Nova Era, na freguesia de São Miguel do Piracicaba [16]. Mais tarde, em 1840, encontramo-lo em Itabira, com a profissão de cirurgião e com doze escravos [17].

Os filhos conhecidos do casal Joaquim Dias Bicalho-Maria Narcisa de Freitas são [14,17]:

1) José Belisário de Freitas Bicalho, nascido em c. 1816
2) Ana, nascida em c. 1816
3) Leonarda, nascida em c. 1819
4) Maria Barbosa, nascida em c. 1822

Desses, é conhecida a descendência de José Belisário de Freitas Bicalho, descrita na obra de Hugo de Caux Belisário, "Zé Belisário: sua vida e sua gente" [18].



Linha desde João Escócio até Antônio João de Freitas Carvalho Drummond

João Escócio pertencia ao clã Drummond da Escócia e emigrou para a ilha da Madeira - vide post "Os Drummond da Madeira e as correspondências com a Escócia". As informações abaixo constam de NORONHA (1700) e Miranda (1888) [5] e estão reproduzidas em DRUMMOND (1970) [13].

1. João Escócio, natural da Escócia, filho de John Drummond de Stobhall e Cargill e de Elizabeth Sinclair, proprietários do castelo de Stobhall, perto de Perth; casado com Branca Afonso.

2. Beatriz Escócia, falecida em 2 de abril de 1527, casada com Antão Álvares de Carvalho, filho de Gil de Carvalho, capitão na Índia, e de Maria Anes de Loureiro. Antão Álvares se estabeleceu na quinta de São Gil, na vila de Santa Cruz, na ilha da Madeira. Após enviuvar, Beatriz Escócia fez um morgado na propriedade, como dito mais acima - o "morgado de São Gil".

3. Gil de Carvalho, que sucedeu seu pai na propriedade do morgado de São Gil; casado em 1525 com Maria Favila, filha de Fernão Favila e de Beatriz Pires.

4. Álvaro de Carvalho, que sucedeu seu pai no morgado de São Gil. Casou-se em primeiro de abril de 1550, em Santa Cruz, com Maria de Goes e Mendonça, filha de Rafael de Goes e Antônia de Mendonça.

5. Sebastião de Carvalho e Mendonça, que sucedeu seu pai no morgado de São Gil; casado com Beatriz da Costa.

6. Sebastião de Carvalho e Mendonça, casado em 27 de maio de 1602, em Funchal, com Isabel Serrão, filha de Antônio Gonçalves Vianna e Maria Gomes.

7. Sebastião Gil de Carvalho, que sucedeu seu pai no morgado de São Gil; casado em 26 de abril de 1628, em Santa Cruz, com Maria da Costa, filha de Pedro Jorge de Arvelos e de Isabel de Sousa.

8. Sebastião de Carvalho Drummond, casado em 6 de julho de 1671, em São Pedro, com Joana da Costa, filha de Manuel da Costa Jardim e de Maria Nunes.

9. Antônio de Carvalho Drummond, casado em 21 de outubro de 1711 com Inácia Micaela de Freitas Henriques, filha de Matias de Freitas e Andreza Henriques. O casamento se deu na casa do pai da noiva, Matias de Freitas, na freguesia de São Pedro.

10. Antônio João de Freitas Carvalho Drummond, que foi para Minas Gerais.


Linha de Antônio João de Freitas Carvalho Drummond ao autor

Vou descrever aqui a linha de Antônio João de Freitas Carvalho Drummond até mim, para que meus parentes próximos possam se localizar. A ligação acontece por três linhas diferentes. Obs.: todos os nomes de mulheres são os de solteira.


Linha 1:

1. Antônio João de Freitas Carvalho Drummond, nascido em 1723, em Funchal, Ilha da Madeira. Casado em 05/11/1770, na capela do Rosário, de Antônio Gomes de Abreu, na freguesia de Santa Bárbara, com Maria Joaquina Gomes de Abreu, nascida em 16/02/1754, na aplicação de Santa Quitéria, freguesia de Santa Bárbara, MG, filha de Antônio Gomes de Abreu e Maria Ferreira Roriz. O casamento se deu na capela de Nossa Senhora do Rosário, na fazenda de propriedade do pai da noiva, na freguesia de Santa Bárbara.

2. Maria Narcisa de Freitas, nascida em 1782 na freguesia de São Miguel do Piracicaba, casada com Joaquim Dias Bicalho, filho de Manuel Dias Bicalho e Leonarda Matilde de Jesus.

3. José Belisário de Freitas Bicalho, nascido em 1816 na aplicação de São José da Lagoa, freguesia de São Miguel do Piracicaba. Casado em 16 de outubro de 1838, no oratório particular do capitão Quintiliano Dias Bicalho (pai da noiva), na freguesia de Lagoa Santa, com Maria Rosalina de Freitas, sua prima, nascida em 1820 na freguesia de Santa Luzia, filha de Quintiliano Dias Bicalho e Ana Claudina de Freitas.

4. Amando Belisário de Freitas Bicalho, nascido em 09/05/1852 em Taquaraçu de Minas e falecido em 19 de abril de 1931 em Pedro Leopoldo. Casado em 1874 com Maria Valeriana da Fonseca Vianna, filha de José de Souza Vianna Júnior e Rita Maria da Fonseca e nascida em 11 de fevereiro de 1857 em Santa Luzia, falecida em 10 de agosto de 1903 em Pedro Leopoldo.

5. José Belisário Vianna, nascido em 13/07/1876 em Sete Lagoas e falecido em 08 de setembro de 1957 em Pedro Leopoldo. Casado em 15 de fevereiro de 1904, em Itabira, com Leopoldina Augusta Chassim Drummond, nascida em 02 de janeiro de 1886 em Itabira e falecida em 8 de novembro de 1922 em Pedro Leopoldo, filha de Teófilo Monteiro Chassim Drummond e Maria Perpétua Martins Guerra.

6. Roberto Belisário Vianna, avô do autor, prefeito de Pedro Leopoldo de 1951 a 1955, nascido em 28 de agosto de 1917 em Pedro Leopoldo e falecido de acidente de carro em 21 de junho de 1959, em Belo Horizonte. Casado em 24 de julho de 1942, em Belo Horizonte, com Maria de Lourdes Carvalho Lopes, nascida em 13 de fevereiro de 1919, em Pedro Leopoldo, e falecida em 11 de maio de 1995, também em Pedro Leopoldo, filha de Álvaro da Silva Lopes e Alda de Azevedo Carvalho.


Linha 2:

1. Antônio João de Freitas Carvalho Drummond c. Maria Joaquina Gomes de Abreu

2. Inácia Micaela Henriques de Freitas, nascida na freguesia de São Miguel do Piracicaba e falecida em 19 de abril de 1856; casada em 1796 com João da Costa Vianna, nascido entre 1754 e 1756 na freguesia de Sabará e falecido em 05 de maio de 1814 na freguesia de Santa Luzia, filho de Manuel da Costa Vianna e Eulália Moreira de Castilho.

3. Ana Claudina de Freitas, casada em 17 de junho de 1814, na aplicação de Fidalgo, freguesia de Santa Luzia, com Quintiliano Dias Bicalho, nascido por volta de 1790 e falecido em 11 de novembro de 1858 em Sete Lagoas, filho de Manuel Dias Bicalho e Leonarda Matilde de Jesus.

4. Maria Rosalina de Freitas, casada com José Belisário de Freitas Bicalho, vide item 3 da linha 1 acima.


Linha 3:

1. Antônio João de Freitas Carvalho Drummond c. Maria Joaquina Gomes de Abreu

2. João Antônio de Freitas CarvalhO Drummond, nascido em 1779 na freguesia de São Miguel do Piracicaba, casado pela primeira vez em 1800 com Ana Luísa Emiliana de Alvarenga, filha de Manuel Monteiro Chassim e Maria Tomásia da Encarnação. Pela segunda, vez, casado com Ana Delmira Bernardina de Oliveira. E, pela terceira vez, casado, em 20 de abril de 1841, na freguesia de Itabira, com Ana Esméria de Freitas Bicalho, filha de Quintiliano Dias Bicalho e de Ana Claudina de Freitas Drummond (não confundir com o casal Quintiliano Dias Bicalho e Ana Claudina de Freitas do item 3 da linha 2 acima. O Quintiliano citado na linha 2 era sobrinho deste outro citado nesta linha 3; idem para a Ana Claudina citada na linha 2 em relação a esta outra nesta linha 3). Do primeiro matrimônio, teve o filho:

3. Manuel Monteiro Chassim Drummond, nascido em 1813 na freguesia de São Miguel do Piracicaba, casado pela primeira vez com Brígida Honorata de Barros Silveira, filha de Manuel de Barros Araújo. Pela segunda vez, casado em 17 de outubro de 1846, em Itabira, com Maria Felizarda da Silveira Drummond, nascida em 1830, sobrinha da primeira esposa. Do primeiro matrimôniio, teve o filho:

4. Teófilo Monteiro Chassim Drummond, nascido em 5 de maio de 1836 em Itabira e falecido em 18 de março de 1892 no mesmo local; casado pela primeira vez em 22 de julho de 1873, em Itabira, com Joana Rosa de Andrade Guerra, nascida em 1856, filha de Domingos Martins Guerra e Leopoldina Amélia de Paula Andrade. Pela segunda vez, casado com Maria Perpétua Martins Guerra, irmã da esposa anterior, nascida em 2 de abril de 1858 em Itabira e falecida em primeiro de outubro de 1896, também em Itabira. Do segundo matrimônio, teve a filha:

5. Leopoldina Augusta Chassim Drummond, casada com José Belisário Vianna, item 5 da linha 1 acima.


Notas e referências

[1] VIDIGAL, Pedro Maciel, "Os Antepassados", volume 2, tomo 2, 1.a parte, pág. 604; ALBUQUERQUE, Pedro Carrano, "Carlos Drummond de Andrade e seus antepassados", Usina de Letras, 2000]

[2] Antônio João declarou ter 75 anos em um documento de 1798: Processo matrimonial de Antônio de Araújo Quintão de Miranda e Maria Crescência (1798, Barão de Cocais). Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana. Processo de código 000278-01-28.

[3] Trata-se de uma nota escrita na margem da certidão de casamento de seus pais; vide nota [19] abaixo.

[4] "Folha da Manhã" (São Paulo), 02/06/1957, apud [13].

[5] As informações sobre o morgado de São Gil e as pessoas relacionadas citadas neste texto constam no título "Carvalhos de S. Gil" em MIRANDA, Felisberto Bittencourt. "Apontamentos para a genealogia de diversas famílias da Madeira" (1888); e NORONHA, Henrque Henriques de, "Nobiliário Genealógico das Famílias" (1700), ambos, disponíveis em PDF no site do Centro de Estudos de História do Atlântico. Há também uma versão em DVD comercializada de Noronha (1700).

[6] DRUMMOND, Antônio Augusto de Menezes, "A heráldica da casa de Drummond", Revista do Instituto Genealógico Brasileiro vol. 1 (1937), pág. 52. Consta "Registrado no Cartório da Nobreza, liv. III, fls. 52v". Na ref. [13] abaixo, consta também que "a carta de brasão original acha-se registrada no Lº 15.º, 88, de registros de semelhantes papéis, de Vila Nova da Rainha, hoje Caeté, em 27.11.1808".

[7] Certidão de casamento de Antônio João de Freitas Carvalho e Maria Joaquina Gomes de Abreu (Santa Bárbara, 05/11/1770). Family Search. Local: Santa Bárbara. Livro: Matrimônios 1748, Jul-1777, Out. Folha: 153. Imagem 158. Dados da certidão:
  • Data: 05/11/1770
  • Local: Capela de Nossa Senhora do Rosário do Capitão Antônio Gomes de Abreu, filial da matriz da freguesia de Santo Antônio do Ribeirão de Santa Bárbara
  • Impedimentos: nenhum
  • Testemunhas: reverendo Antônio Jorge [?]lho; reverendo coadjutor Francisco Xavier do Amaral
  • Provisão: do reverendo doutor Lourenço José de Queiroz Coimbra; vigário geral da Comarca de Sabará
  • Licença: do reverendo vigário doutor José Felipe de Gusmão e Silva
  • Outros presentes: reverendo padre José Luís Gomes
  • Noivo: Antônio João de Freitas e Carvalho, filho legítimo do capitão Antônio Carvalho e dona Inácia Micaela e Freitas Henriques, natural e batizado na freguesia da Sé, da cidade do Funchal
  • Noiva: Maria Joaquina Gomes de Abreu Freitas, filha legítima do capitão Antônio Gomes de Abreu e de dona Maria Ferreira Roriz, natural e batizada na freguesia de Santo Antônio do Ribeirão de Santa Bárbara
  • Assinado: coadjutor Francisco Xavier do Amaral

[8] Processo matrimonial de Antônio de Araújo Quintão de Miranda e Maria Crescência (1798, Barão de Cocais). Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana, processo de código 000278-01-28.

[9] Arquivo Público Mineiro (Belo Horizonte). Seção Arquivo Histórico Ultramarino/MG. Cx 101, Doc 16.

[10] LANGFUR, Hal. "Mapeando a consquista" (PDF). Revista do Arquivo Público Mineiro 47 (2011), vol. 1, pág. 32; PAIVA, "Um livro aberto da conquista" (PDF), Revista do Arquivo Público Mineiro 47, vol. 1, pág. 160.

[11] Arquivo Público Mineiro (Belo Horizonte). Seção Arquivo Histórico Ultramarino/MG. Cx 112, Doc 27.

[12] BARBOSA, Waldemar de Almeida, "Dicionário histórico geográfico de Minas Gerais", ed. Itatiaia, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, 1995, pág. 107 (verbete "Cuieté Velho").

[13] DRUMMOND, José Tavares, "A família Drummond no Brasil", Publicações do Colégio Brasileiro de Genealogia, Rio de Janeiro, 1970.

[14] A filiação de Maria Narcisa de Freitas é informada pela certidão de casamento de um de seus filhos, José Belisário de Freitas Bicalho, com Maria Rosalina de Freitas, em 16/10/1838, em Lagoa Santa (Arquivo da Cúria de Belo Horizonte. Livro de casamentos de Lagoa Santa (1824-1884), folha 65, verso. Family Search: imagem 68). Ali, é mencionado "parentesco de consanguinidade de segundo grau de linha transversal igual e de terceiro grau também transversal". Ora, sabe-se que a ascendência de Maria Rosalina é:


De maneira que a única possibilidade é que Joaquim Dias Bicalho seja irmão de Quintiliano Dias Bicalho (ou seja, os pais de José Belisário e Maria Rosalina eram irmãos) e que Maria Narcisa de Freitas era filha de Antônio João de Freitas Carvalho Drummond (ou seja, a mãe de José Belisário era tia da mãe de Maria Rosalina). A árvore de ancestrais acima pode ser comprovada com essas fontes:

a) Casamento de Quintiliano Dias Bicalho e Ana Claudina de Freitas: Santa Luzia, 17/06/1814. (1) Arquivo da Cúria de Belo Horizonte. Livro de casamentos de Santa Luzia (18-- a 1822), folha 42. (2) Family Search. Local; Santa Luzia. Livro: Matrimônios 1809, Nov-1822, Nov. Imagem: 42.

b) Processo matrimonial de Manuel Dias Bicalho e Leonarda Matilde de Jesus (Santa Bárbara e São Miguel, 1772), no Arquivo Eclesiásico da Arquidiocese de Mariana.

c) Processo matrimonial de João da Costa Vianna e Inácia Micaela Henriques de Freitas (Sabará, 1795). Também no Arquivo de Mariana.

[15] A localização do Baú e das Pacas podem ser vistos neste mapa de 1939 do município de Santa Bárbara, no Arquivo Público Mineiro. As Pacas estão um pouco à direita de São Gonçalo do Rio Abaixo, um pouquinho para cima; e o Baú, quase na linha vertical para o norte das Pacas, um pouquinho para a esquerda.

[16] Conforme consta do seu depoimento no processo matrimonial de Joaquim Gomes Drummond e Maria Tomásia da Encarnação (São Miguel, 1813), disponível no Arquivo Eclesiástico da Aquidiocese de Mariana.

[17] Mapa de população de Itabira do Mato Dentro. Arquivo Público Mineiro, Belo Horizonte. Cx 8/17 (1840), Filme 4, Gaveta B2. Item 652.

[18] BELISÁRIO, Hugo de Caux. "Zé Belisário: sua vida e sua gente". Escritório de Histórias, Belo Horizonte, 2012. Pág. 72.

[19] Certidão de casamento de Antônio de Carvalho Drummond e Inácia Micaela de Freitas (São Pedro, 21/10/1711). Arquivo Regional da Madeira, livro 6 de registo de casamentos de São Pedro (1712/1760), livro 121, folha 060 ( PT-ARM-PFUN08/2/121/060 ).